Tentativa de orquestrar o som do inferno






Morar numa esquina 'nervosa' do bairro Pinheiros, em São Paulo, pode ser uma experiência enlouquecedora. (Me) refiro ao cruzamento da Av. Pedroso de Morais com Av. Rebouças.
É aqui que se faz pós-doc em poluição sonora.
E é aí que se percebe que não há educação para o trânsito, para a vida, cuidado e penalidade para os abusos cometidos. Porque..., não importa, são os motoristas, o "povo da noite", os ambulantes, os profissionais da construção civil e serviços ligados a esta área, os funcionários da CET, da polícia, da área da saúde, que constroem esta loucura auditiva na região.
Então, voilá! A fim de orquestrar o som do inferno, segue uma descrição das camadas perceptíveis que o compõe:

à frente: máquinas vibradoras, descascadoras de fachadas de prédios, ininterruptas durante o dia.

ao lado - no caso, um amplo estacionamento de prédio: perfuradoras, manipulação de pás em piso e montanhas de materiais arremessados aos misturadores de areia e cimento.

no alto e mais além: rota de descida dos aviões vindos do norte (?!) para o aeroporto de Congonhas. Este trânsito dura o horário de funcionamento do aeroporto.

vuvuzelas e outras trombetas destruidoras de 'ouvidos musicais' dos vendedores ambulantes, que oferecem e demonstram seus 'produtos', enquanto o farol está fechado para a Pedroso e do povo 'fanático por futebol', durante este período de Copa do Mundo. Incluindo uma senhora vizinha que aparece com o 'instrumento' na sacada de seu apartamento, em dias de jogos do Brasil. Por conta disso, a batizei de vovózela.

ruídos clássicos e constantes nas metrópoles: freiadas, alto-falantes expandidos com trilha sonora variada - de caipira/sertanejo, eletrônica, a rock, rap, baba, funk, até as gratas surpresas como triphop e jazz; surdinas e motores desregulados; ondas de buzinas de carros de motoristas ansiosos em farol recém aberto; buzinas ritmadas por motoboys, em trânsito parado, avisando que estão passando; correntes frouxas e guinchos de caminhões transportadores de caçambas, sirenes de ambulâncias, da polícia.

ruídos que se amplificam à noite: fluxo de rodas sobre placas de metal presas ao asfalto (seriam escoadores pluviais? respiros do metrô? :\) em dois pontos próximos: junto ao meio fio da Pedroso e ao longo da entrada do túnel na Rebouças; choques e/ou quebra de garrafas e outras coisas arremessadas ao caminhão de lixo, além das engrenagens trituradoras e das manobras em ré, para troca de pista, deste caminhão. Quase sempre, entre às 0h e 03hs; descarga diárias de caçambas em uso nas obras da região; tentativas e erros de megacaminhões da construção do metrô-linha amarela, de entrar numa estreita faixa da Rebouças; palavras de ordem, apitos, manobras de funcionários e carros da CET em dia de fechamento do túnel por chuva, asfaltamento e/ou congestionamento nestas avenidas; gritos de bêbados, euforia pós-balada, conversa de passageiros em janelas de carros diferentes; discussões e brigas, etc.

Sim, eu disse: ETC, porque estava esquecendo da vizinha e seu 'ritual' de bater metais (latas? panelas?) por toda a área do apartamento abaixo do meu e intercalando com um lamento mântrico que diz: JEEESUS! Meeeu Deus, minha Nossa Senhora (esta última dita em tom de sussurro) e que vem direto da sua área de serviço.

E durma com um barulho desses!!!